Amazônia enfrenta crises de água e saneamento mesmo com rios abundantes
Dia da Amazônia alerta para cuidados com rios
A Amazônia abriga a maior bacia hidrográfica do mundo, formada por milhares de rios que cortam a floresta e representam um verdadeiro “oceano doce”. Entre eles, os gigantes Rio Negro e Solimões não apenas compõem paisagens imponentes, mas também garantem a sobrevivência de milhões de pessoas e mantêm a maior biodiversidade do planeta.
Estima-se que um quinto da água doce superficial do mundo esteja na região, reforçando sua importância global para o equilíbrio ecológico e climático. Mas, apesar dessa abundância, os recursos hídricos enfrentam ameaças. Crimes ambientais e contaminação das águas afetam comunidades ribeirinhas e a população urbana.
“É um prejuízo direto para quem habita aqui. Contaminantes orgânicos e químicos acabam escoando dos igarapés para os rios. Por um lado há abundância, por outro, vulnerabilidade”, afirmou Marco Antônio Oliveira, geólogo do Serviço Geológico do Brasil.
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Em Manaus, mesmo cercada por rios, o abastecimento de água e o saneamento básico ainda apresentam problemas.
Elisa Sateré, que viveu oito anos em uma comunidade indígena, lembra das dificuldades:
“Era uma dificuldade enorme. Não tínhamos poço próprio e dependíamos de outras comunidades ou de buscar água na cacimba", disse.
Atualmente, a água encanada chegou, mas o desafio permanece. Cerca de 730 milhões de litros — o equivalente a 292 piscinas olímpicas — são retirados diariamente do Rio Negro para abastecer a capital. A maior parte da população utiliza água superficial, tratada e controlada antes de chegar às torneiras.
“Lá em casa, economizo água sempre. Abro apenas na hora do enxágue e tento não sujar tanto”, explicou Jarina Souza, moradora de Manaus.
Apesar do uso intenso, apenas 34% dos domicílios da cidade têm acesso ao serviço de esgoto. A concessionária responsável projeta alcançar 90% de cobertura até 2033.
De acordo com a Agência Reguladora dos Serviços Públicos Delegados do Município de Manaus, a concessionária Águas de Manaus está cumprindo o prazo de construção da rede de esgoto na capital, com meta prevista para 2033.
Segundo o órgão, é necessário um trabalho de conscientização da população que já tem acesso à rede de drenagem de esgoto para que passe a utilizá-la.
O órgão destacou que é responsabilidade de todos contribuir para que o sistema de esgoto seja eficiente e ajude na preservação das águas. A maior parte da água usada é devolvida ao meio ambiente sem tratamento adequado.
“Se toda a população estivesse conectada à rede de esgoto, conseguiríamos ter rios muito mais saudáveis”, afirmou Tannia Mattos, coordenadora de tratamento de esgoto.
Em áreas de palafitas, a instalação de rede de esgoto precisou ser aérea. Ivone Rodrigues, moradora da região, contou que a mudança trouxe melhorias.
“O cheiro era horrível. Teve gente que relutou, mas eu entendi a importância mesmo sem ter estudo elevado.”
Projetos inovadores também ajudam no monitoramento da água. O robô Yara, desenvolvido pela Universidade do Amazonas, registra dados de qualidade hídrica para apoiar ações de preservação.
“Precisamos tratar a questão da água na Amazônia com a mesma prioridade que temos com a floresta e o clima”, explicou Carlossandro Albuquerque, coordenador do projeto.
Iniciativas locais reforçam a conscientização sobre a preservação. No Sítio da Antônia, a plantação de 300 açaizeiros Juçara envolve crianças em projetos educativos sobre a água.
“Nós temos que cuidar da natureza, especialmente da água, para que nossos bisnetos também vejam água limpa. Isso aqui é um tesouro”, disse Antônia Assunção.
A educação ambiental se estende às crianças, que aprendem desde cedo sobre a importância de proteger rios e florestas.
*Com informações de Daniela Branches, da Rede AmazônicaFONTE: https://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2025/09/06/amazonia-enfrenta-crises-de-agua-e-saneamento-mesmo-com-rios-abundantes.ghtml